AFINAL HÁ QUEM SEJA DONO DA VERDADE?

A Comissão Política da UNITA aprovou (por unanimidade) uma moção de confiança ao seu líder, Adalberto da Costa Júnior, elogiando “a forma brilhante como liderou a defesa” do partido e resistiu “aos ataques políticos virulentos contra si e contra o partido”. Onde é que já se tinha visto este tipo de apologia? Salvar pela crítica ou matar pelo elogio? Eis a questão…

A moção foi aprovada por unanimidade com 243 votos dos presentes, segundo o comunicado final que resume as conclusões da II Reunião Ordinária da Comissão Política da UNITA, que se realizou na sexta-feira e no sábado.

Nas conclusões, a UNITA destaca que, depois da realização do seu XIII Congresso Ordinário (que elegeu Adalberto da Costa Júnior), “viveu uma situação de ataque político permanente do regime com o recurso a todo o aparelho do estado”, felicitando os seus membros por, “apesar das adversidades”, se terem conseguido manter unidos.

A UNITA promete “trabalhar afincadamente” para a realização das eleições autárquicas em 2023 e em todos os municípios, e aprovou como lema do Partido para o próximo ano: “2023 – Ano da Defesa da Democracia Participativa para o Desenvolvimento Sustentável”.

No comunicado, o partido do “Galo Negro” responsabiliza o executivo angolano liderado pelo MPLA (partido no poder desde 1975) pela “situação miserável” de boa parte população angolana e solidariza-se com a luta de várias classes de trabalhadores (professores, médicos, enfermeiros, profissionais da TAAG), que tem realizado greves nos últimos meses.

Critica ainda a falta de vontade política de criar “políticas a favor do trabalho e dos desempregados” e exige medidas adequadas face aos mais de três milhões de crianças que se encontram fora do sistema de ensino.

O partido denuncia ainda a perseguição política que tem sido perpetrada pelo regime através de instituições públicas “contra vários cidadãos que, no exercício do seu direito de cidadania, no decorrer das recentes eleições participaram em actividades a favor da alternância de poder”.

O comunicado diz também que o executivo angolano se apropriou do programa Kwenda financiado parcialmente pelo Banco Mundial, direccionado ao combate à pobreza “e que serviu vergonhosamente para a compra de votos nas últimas eleições”.

Em termos internacionais, a UNITA apoia os esforços da comunidade internacional tendentes a reduzir a emissão de gases com efeito estufa e apela a negociações de paz entre as partes beligerantes dos conflitos do Tigray e do Leste da República Democrática do Congo, bem como negociações directas entre a Rússia e a Ucrânia, apoiadas pela comunidade internacional.

QUASE PARECE O… MPLA

Se João Lourenço tornou regra de ouro no seu (mau) reino que a liberdade dos jornalistas tem de acabar onde começa a do seu (mau) MPLA, a UNITA está a seguir-lhe o exemplo e já mandou (ou foi iniciativa individual de alguns dos seus políticos?) dizer que o Folha 8 está abusar nas críticas que faz ao Galo Negro. Será o vislumbre de uma estranha coligação MPLA/UNITA? A ser, o que é dado em troca?

Por alguma razão, há já bastante tempo mas sempre com plena actualidade, António Barreto – prestigiadíssimo sociólogo português que Adalberto da Costa Júnior conhece bem – disse de José Sócrates aquilo que hoje se aplica milimetricamente a João Lourenço e tem a UNITA a bater à porta. Ou seja, que “não tolera ser contrariado, nem admite que se pense de modo diferente daquele que organizou com as suas poderosas agências de intoxicação a que chama de comunicação”.

António Barreto acrescentava ainda, de forma lapidar, que o primeiro-ministro (José Sócrates) era “a mais séria ameaça contra a liberdade, contra autonomia das iniciativas privadas e contra a independência pessoal que Portugal conheceu nas últimas três décadas”. Aplicável a 100% a João Lourenço? Sim. E para que percentagem caminha a UNITA?

Habituado a que os trabalhadores das redacções dos órgãos de comunicação social (Jornalistas são, como é óbvio, outra coisa substancialmente diferente) vão comer à mão do MPLA, João Lourenço não consegue conviver com a liberdade de expressão, com o direito à indignação e também com o dever dos jornalistas de escrutinar a actividade do Governo. Será que Adalberto da Costa Júnior foi contaminado por esse mesmo vírus?

É por isso que João Lourenço se dá bem com a sua própria sombra, bem como com outras sombras que com ele estão sempre de acordo. Numa atitude que está a fazer escola, prefere ser assassinado pelo elogio do que salvo pela crítica. Mas, como o Folha 8 tem dito em relação a João Lourenço, no que a nós respeita não será assassinado. Continuaremos a criticar quando entendemos que o devemos fazer. O mesmo se aplica, continuará a aplicar, à UNITA.

É, obviamente, um direito que assiste tanto a João Lourenço como a Adalberto da Costa Júnior.

É visível o azedume do Presidente do MPLA quando vê algum jornalista que se atreve a dizer o que não lhe agrada. Não é, sequer, nada de novo. Já ver (por enquanto por interpostas pessoas) similar sentimento por parte de Adalberto da Costa Júnior é manifestamente preocupante.

Parafraseando António Barreto, diremos que “não sabemos se Adalberto da Costa Júnior tende a ser um ditador. Não nos parece, mas, sinceramente, não sabemos. De qualquer modo, o importante não está aí. Talvez esteja nos sintomas, nos sinais, de não tolerar ser contrariado, de não admitir que pensa de modo diferente.

Então porque é que Adalberto da Costa Júnior não gosta do Folha 8? Desde logo porque temos a obrigação e o dever de relatar os factos com rigor e exactidão e interpretá-los com honestidade.

Porque se não procuramos saber o que se passa (seja no MPLA, na UNITA etc.) não estamos a cumprir a nossa missão. Porque se sabemos o que se passa e eventualmente nos calamos estamos cometer um crime junto das únicas pessoas a quem devemos prestar contas: os angolanos.

Porque nos recusamos a divulgar as nossas fontes confidenciais de informação, respeitando sagradamente os compromissos com elas assumidos. A não revelação das fontes é, aliás, uma das razões pelas quais vale a pena ser preso.

Porque se um jornalista não procura saber o que se passa é um imbecil, passando a ser um criminoso quando sabe o que se passa e se cala.

Folha 8 com Lusa

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